9 de junho de 2010

Astúrias, 12 a 15 Setembro 2009

A curiosidade em conhecer o canyoning das Astúrias ou da Galiza vinha de longe, com alguma expectativa de comparação com o nosso magnífico Gerês.


Mas com pouco tempo tínhamos de escolher só um destes objectivos. Os dois numa única viagem de 4 dias seria apenas passar o tempo a viajar e ver paisagem. “40 barrancos de Asturias”, publicado pelas Ediciones Desnivel em 2008, foi a base para nos decidirmos pela proximidade aos Picos da Europa e serviu também para escolher os objectivos, graças à listagem comparativa incluída no livro.


Decidimos optando não só pelos mais bem classificados (4 ou 5 estrelas), mas também tendo em conta a dificuldade, duração da descida e acessibilidade.


A curiosidade era grande e quanto à classificação dos canyons, a questão é “qual o termo de comparação”, pois já temos o nosso Gerês, o Alvão e a Freita, com descidas fantásticas. Portanto a fasquia era muito alta logo à partida.


Saímos do Porto às 20h30 e bivacámos 30 km a Sul de Riano, experimentando o fresquinho da noite, a lembrar que o Outono que se aproximava seria rigoroso por estes lados. Às 10h do dia seguinte parámos em Riano para o café matinal, com super bom tempo.


Depois da leitura do guia, muito comentada entre todos durante a viagem nocturna, a selecção do primeiro objectivo estava feita e confirmada. Aliás, essa leitura praticamente definiu os 7 ou 8 objectivos possíveis para os 4 dias, tendo em conta o facto de só termos um carro e de pretendermos fazer alguns dos mais bem classificados (de entre os 40 barrancos apenas 10 são de 4 ou 5 estrelas e de dificuldade média-alta ou alta).


Descobrimos algumas semelhanças por exemplo com a Madeira, devido à vegetação densa e abundante, ao verde constante de árvores e musgos, e também pela dimensão das paredes, altas e escarpadas, com canyons muito encaixados e sem qualquer hipótese de saída.


A diferença estava na rocha, agora em calcário, portanto fazendo lembrar Guara, por oposição aos basaltos da Madeira e Açores, ou ainda muito diferente dos granitos do Norte de Portugal.


Caracteriza-se ainda por uma diversidade ambiental particular, nomeadamente em termos de flora, de geologia e de relevo, o que constitui um atractivo extra, inclusive pelos frequentes percursos longos de acesso ou de regresso que é necessário prever.


O livro “40 barrancos de Asturias” insistia na conveniência de levar material para equipar, devido ao extremo encaixe de algumas descidas e também porque aqui não há o vício de equipar em quantidade como em Portugal. Mas tivemos a tarefa facilitada, pois encontrámos tudo relativamente bem equipado. Pudera, estávamos em Setembro, com a época desportiva de canyoning quase a acabar e antes dos grandes caudais de Inverno, que destroem muitas amarrações.


Encontrámos algumas reuniões naturais bem interessantes, fazendo lembrar por exemplo o barranco San Julian, em Guara.


Nestes quatro dias podemos constatar que tivemos sorte, já que apenas no último a descida planeada foi boicotada pelo mau tempo.


Quanto aos canyons feitos, a opção foi para o Viboli, o Ríu l’Texu, o Tolivia e, para terminar, o Causacas.


Para começar o Viboli, com acesso e regresso fácil, soube a pouco, por ser curto e fácil, mas era o que convinha depois da longa viagem. Foram 2 h para um desnível de 150 m incluindo 5 rapéis, com um máximo de 18 m; canyon classificado como 4 estrelas e dificuldade média. Foi a única das quatro descidas em que encontrámos outros grupos.

Depois o Ríu l’Texu encheu as medidas:- uma caminhada de 2h, lindíssima, no meio de bosque ou entre falésias e depois um bom canyon, incluindo 12 rapéis, até 38 m, numa garganta calcária muito encaixada. Canyon classificado como 5 estrelas e dificuldade alta.


O terceiro foi o Tolivia, também com uma caminhada interessante, mais árida que a do Texu, mas com uma vista fabulosa para o Desfiladeiro de Los Beyos. O canyon começava seco (como o Fornocal-Guara) mas logo após o 2º rapel tinha 2 exsurgências que o alimentavam com um caudal bastante razoável. Canyon classificado como 5 estrelas e dificuldade média a alta consoante o caudal.


Conhecendo a previsão meteorológica, que era instável, e como no dia seguinte seria o nosso regresso ao Porto (e no meu caso seguia ainda para Lisboa de noite), optámos por nos aproximar de Oviedo e tentar um canyon situado na bacia hidrográfica do Nalón. Mas de caminho fomos passear a Cangas de Ónis, antes de seguir até Proaza, já a sudoeste de Oviedo.


Para último ficou assim o Causacas (canyon classificado como 5 estrelas e dificuldade média-alta). Infelizmente não passou de um projecto, porque o mau tempo foi-nos visitar e por precaução não iniciámos a descida. A tentativa ficou-se pela longa marcha de subida até ao inicio, exactamente onde o chuvisco se transformou em forte chuvada; e foi o regresso, pelo mesmo caminho na floresta densa mas já com lama cada vez mais profunda.


Valeu ouvir “La Berea”, a brama dos veados, em pleno meio-dia e enquanto atravessávamos essa floresta densa na montanha.


Partida da aldeia de Proaza às 15h30 e chegada ao Porto pelas 20h30.


E assim foram os nossos 4 dias de Canyon, incluindo cerca de 1200 km de carro a partir do Porto e que correspondeu à principal despesa da viagem, além de um jantar num restaurante de aldeia, já que o alojamento foi sempre em bivaque (com excepção da última noite, em que montámos as tendas, já que havia fortes hipóteses de chover).


Conclusão: apesar do tempo nas Asturias ser instável apanhámos 3 dias excelentes. Dormimos sempre ao ar livre em parques de merendas e quase todos com um rio mesmo ao lado. No último dia íamos tendo azar, com a policia a vir ter connosco dizendo que era proibido “acampar” neste tipo de locais e que tínhamos de ir embora (com o seu castellano fluente a Cristina conseguiu evitar a multa).


Paulo Alves

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